O que muda no tratamento após serotonina ser descartada de causas da depressão?

Conheça mais sobre outros neurotransmissores, como a serotonina, no seu humor

Por muitos anos, os baixos níveis de serotonina no organismo eram considerados responsáveis por quadros depressivos. Mas, em julho, um estudo publicado no Molecular Psychiatry, que compilou 17 pesquisas a respeito do assunto, revelou que não há diferenças entre os níveis de serotonina em uma pessoa com ou sem depressão.

“A hipótese de que níveis baixos de serotonina estariam associadas à causa da depressão foi descartada há algum tempo com base em estudos de depleção de serotonina. Em caráter experimental, conseguimos depletar a serotonina em animais e seres humanos e analisar o impacto no comportamento e no cérebro. Estes estudos mostraram que, em indivíduos sem histórico de depressão e sem histórico familiar de depressão, mesmo com baixos níveis de serotonina, sintomas depressivos nem sempre eram desencadeados”, afirma o psiquiatra Rafael Moreno, mestre e doutor em Medicina pela PUC do Rio Grande do Sul.

O médico lembra que, com a invenção da Fluoxetina, o primeiro medicamento que aumenta os níveis de serotonina no cérebro através da inibição da sua receptação a nível neuronal, surgiu a hipótese de associar o neurotransmissor à depressão: “Ainda mais que, depois do uso deste medicamento, as pessoas de fato melhoraram. Mas na ciência é assim: nem tudo que possui uma clara explicação em laboratórios e em estudos com animais se comprova na prática médica com ‘humanos de verdade'”, pondera.

A serotonina foi tão diretamente atribuída aos quadros depressivos que também influenciou a produção de diversos tipos de medicamentos para ajudar a aliviar os sintomas. Os mais comuns são: irritabilidade, ansiedade, angústia, desânimo, cansaço fácil, apatia, incapacidade de sentir alegria e prazer, desinteresse e falta de motivação. Em casos graves, a pessoa pode deixar de cuidar da própria higiene, se alimentar e ficar cada vez mais isolada. A depressão é a comorbidade mais associada em casos de suicídio também. Será que descartar a serotonina como a responsável pela depressão pode influenciar mudanças na produção farmacêutica desses remédios?

“Existem vários mecanismos possíveis de causar sintomas depressivos: inflamatórios, disfunções em circuitos cerebrais, imunológicos, outros neurotransmissores como o glutamato. E com certeza existem outros que ainda não descobrimos. Os cientistas devem seguir pesquisando incansavelmente”, na avaliação de Rafael Moreno.

Sobre mudanças no tratamento da depressão após a serotonina não ser a grande vilã, Rafael Moreno explica: “Na prática do psiquiatra não muda muito. Seguimos utilizando medicamentos antidepressivos que inibem a recaptação da serotonina para o tratamento da depressão, mesmo sabendo que podem existir outros mecanismos para a causa da doença. Medicina não é uma ciência exata, vamos seguir estudando para tentar descobrir a causa desta terrível patologia e na busca de novos tratamentos”, conclui.

O que é um inibidor de recaptação e por que ele é importante?

Os medicamentos psiquiátricos agem no sistema nervoso central nas sinapses, que são os espaços de comunicação entre dois neurônios. “Em uma parte destes neurônios existem recaptadores de serotonina, que captam o neurotransmissor que está na sinapse, digamos que “sobrando”, e coloca de volta para dentro do neurônio para degradá-la. Os medicamentos que inibem a recaptação  da serotonina fazem com que aquela que está “sobrando” não seja capturada, fazendo com que fique mais livre para se ligar nos neurônios para ter ação. Por mais que pareça que esta recaptação seja prejudicial para o funcionamento do cérebro, ela é importante para manter os níveis adequados de serotonina no cérebro”, esclarece o psiquiatra Rafael Moreno, mestre e doutor em Medicina pela PUC do Rio Grande do Sul.

Para pacientes com depressão, levando em conta as descobertas da Psiquiatria, quais seriam os tratamentos ideais?

O tratamento da depressão sempre deve ser baseado nas características peculiares do paciente e varia conforme os sintomas, gravidade, duração, uso prévio de outros tratamentos, idade, sexo, etc.

Entre as possibilidades terapêuticas há medicamentos antidepressivos, que podem agir em diversos neurotransmissores como serotonina, noradrenalina, dopamina, glutamato, entre outros.

“Existem outros remédios que são adjuvantes no tratamento, como estabilizadores do humor e antipsicóticos atípicos, e também podemos utilizar terapias eletromagnéticas como eletroconvulsoterapia e estimulação magnética transcraniana. As psicoterapias também são muito efetivas, e existem diversas modalidades com estudos científicos mostrando eficácia”, ressalta o médico Rafael Moreno.

A internação pode ser necessária em casos graves, onde existe o risco de suicídio ou catatonia (quando o paciente fica imóvel), por exemplo. Mudanças no estilo de vida cada vez mais estão sendo valorizadas e importantes no tratamento e na prevenção da depressão.

“Alimentar-se de forma saudável, praticar exercícios e saber controlar o estresse são sempre bem-vindos. Ou seja, o tratamento da depressão não possui receita de bolo, cabe ao médico analisar bem o caso do seu paciente e propor o melhor tratamento”, afirma.

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