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O que é Doença de Huntington?

A Doença de Huntington (DH) é uma doença rara, hereditária ou genética, neurodegenerativa, do sistema nervoso central. Ela causa a morte dos  neurônios em várias estruturas do cérebro, incluindo aquelas que controlam os movimentos voluntários e coordenação motora.

A principal manifestação da doença são movimentos involuntários abruptos chamados de coreia, mas a DH também pode causar uma ampla gama de sintomas, que apresentam uma piora progressiva. Os sinais podem ser confundidos com outras alterações, como AVC, Parkinson, Síndrome de Tourette ou consequências do uso de algum medicamento.

Geralmente, a Doença de Huntington ocorre em homens e mulheres, entre 30 e 50 anos, mas também há uma forma de início precoce, que pode acontecer antes dos 20 anos.

Se você acredita que possui essa doença, procure um neurologista para que possa ter um atendimento e realizar o tratamento.

Coréia de Huntington

A palavra ‘khoreia’ vem do grego, que significa dança. Na DH, a coréia é um sintoma caracterizado por contrações musculares involuntárias imprevisíveis e sem ritmo, sendo considerado o sintoma mais característico da doença, uma vez que ocorre em 90% dos indivíduos. Envolve diferentes partes do corpo e varia em frequência, amplitude e intensidade. Pode interferir na fala, marcha, equilíbrio e em outras atividades motoras.

Outras recomendações

A Doença de Huntington de início na idade adulta começa mais frequentemente entre os 30-50 anos. Alguns indivíduos desenvolvem DH após os 55 anos. Os primeiros sintomas em adultos, que podem aparecer antes mesmo do diagnóstico, são:

  •             Movimentos musculares leves e incontroláveis;
  •             Tropeço e falta de coordenação;
  •             Falta de concentração;
  •             Lapsos de memória de curto prazo;
  •             Depressão;
  •             Mudanças de humor, às vezes incluindo comportamento agressivo ou anti-social.

 

⇒ Existe também um distúrbio relacionado denominado coreia senil. Alguns idosos desenvolvem os movimentos não intencionais e descontrolados, mas não desenvolvem demência, têm um gene para DH e não têm história familiar da doença.

Alguns indivíduos desenvolvem sintomas de DH antes dos 20 anos. Isto é denominado Doença de Huntington de início precoce ou juvenil. Apesar de raro, é possível que os sintomas surjam antes dos 10 anos de idade (DH Infantil). Os sintomas de pessoas com DH juvenil podem incluir:

  •             Diminuição do desempenho escolar;
  •             Mioclonia (espasmos ou contrações musculares involuntárias rápidas);
  •             Lentidão;
  •             Rigidez muscular;
  •             Tremores;
  •             Apreensões;
  •             Deficiência cognitiva;

A doença progride mais rapidamente em indivíduos com DH juvenil ou de início precoce, e a morte geralmente pode ocorrer após 10 anos do início dos sintomas. Os indivíduos com DH juvenil geralmente herdam a doença dos pais, que normalmente apresentam uma forma de DH de início tardio.

A prevalência refere-se ao número de casos novos e já existentes,  a incidência refere-se somente ao número de casos novos em um determinado período. 

No mundo:

Global (2012):

prevalência – 2,71 para cada 100 mil habitantes (Pringsheim, 2012)

População Ocidental (2015-2018): (Bates, 2015; McGolgan & Labrizi, 2018)

Incidência – 0,47 a 0,69 para cada 100 mil habitantes (casos novos ao ano)

Prevalência – 10,6 a 13,7 para cada 100 mil habitantes 

Europa, América do Norte e Austrália (2012): (Pringsheim, 2012)

Incidência – 0,011 a 0,8 para cada 100 mil habitantes (casos novos ao ano)

Prevalência – 5,7 para cada 100 mil habitantes

Ásia (2012): (Pringsheim, 2012)

Incidência – 0,046 a 0,16 para cada 100 mil habitantes (casos novos ao ano)

Prevalência – 0,4 para cada 100 mil habitantes

No Brasil:

Estudos ainda são escassos no Brasil, os dados abaixo são referentes à prevalência:

Ervália/MG – cerca de 7,2 para cada 10 mil  habitantes (Alencar, 2016)

Feira Grande/AL – 1 para cada 10 mil habitantes (Alencar, 2016)

Rio Grande do Sul – 1,85 para cada 100 mil habitantes (Castilhos, 2019)

A Doença de Huntington causa incapacidades que pioram com o tempo. Atualmente, nenhum tratamento está disponível para retardar, interromper ou reverter o curso da DH. Pessoas com DH geralmente vêm a óbito em 10 a 30 anos após o início dos sintomas, mais comumente de infecções (na maioria das vezes pneumonia) e lesões relacionadas a quedas, secundárias às graves condições clínicas e neurológicas que as pessoas acometidas atingem.

Dentre as várias fases da doença, os sintomas podem ser diferentes em cada uma delas. Geralmente ocorre uma tríade de sintomas (motores, psiquiátricos/comportamentais e cognitivos), mas os pacientes podem apresentar um ou todos os grupos de sintomas. 

Motores: as pessoas com esta condição apresentam movimentos involuntários incoordenados, súbitos e rápidos, que iniciam-se com leves alterações nas extremidades do corpo e evoluem progressivamente para todo o corpo.  Com o tempo, a coréia passa a dar lugar a sintomas mais incapacitantes, tais como: sintomas similares à Doença de Parkinson, como bradicinesia (lentidão dos reflexos), rigidez e lentidão para exercer movimentos e tremores. Também surgem intensa falta de coordenação, distonias (contrações vigorosas de grupos musculares), e disfagia (dificuldade de engolir).

Psiquiátricos/comportamentais: Normalmente surgem antes dos sintomas motores. Inicialmente, associados aos sintomas motores, podem ser confundidos com uma inquietação constante. Os sintomas precocemente mostram-se como irritabilidade, apatia (ausência de interesse), quadros depressivos ou ansiosos, até mesmo bipolares, que, em casos mais graves, pode aumentar o  risco de suicídio.

Cognitivos: Desde o início, há uma diminuição progressiva da função executiva, ou seja, na capacidade de compreensão, planejamento, autocontrole e foco. Posteriormente, os sintomas evoluem para uma síndrome demencial, com prejuízo da memória e das capacidades mentais,

As fases da DH são divididas em pré-manifestação e manifestação.

Pré-manifestação:

Pré-sintomáticos – ocorre de 10 a 15 anos antes do diagnóstico; podem ser clinicamente indistinguíveis de controles;

Prodrômicos – Alterações motoras, cognitivas e comportamentais sutis. 

Manifestação:

Marcada pela presença dos sintomas motores (coréia) e é dividida em 3 estágios:

Estágio inicial – Os indivíduos são funcionais e podem continuar a trabalhar, dirigir, lidar com dinheiro e viver de forma independente. Os sintomas podem incluir movimentos involuntários menores, perda sutil de coordenação, dificuldade de pensar em problemas complexos, depressão, irritabilidade ou desinibição.

Estágio intermediário – Aqui começam algumas mudanças bastante significativas, como a perda da capacidade de trabalhar ou dirigir e talvez não ser mais capaz de administrar suas próprias finanças ou ainda de realizar as tarefas domésticas. Ainda são capazes de comer, se vestir e cuidar da higiene pessoal com ajuda. Pode haver problemas para engolir, equilíbrio, quedas e perda de peso. A resolução de problemas se torna mais difícil porque os indivíduos não podem sequenciar, organizar ou priorizar as informações.

Estágio avançado – As pessoas no estágio tardio de DH passam a necessitar de auxílio em todas as atividades da vida diária. Embora sejam frequentemente não verbais e acamados nos estágios finais, é importante notar que as pessoas com DH parecem ter alguma compreensão. Os sintomas psiquiátricos podem ocorrer em qualquer ponto do curso da doença, mas são mais difíceis de reconhecer e tratar no final da doença devido às dificuldades de comunicação.

Para o diagnóstico é necessário um exame clínico e físico cuidadoso, aliados aos exames de neuroimagem e de um teste genético específico para a doença. Inicialmente, se houver a suspeita do desenvolvimento da doença, deve-se buscar um neurologista para prosseguir com o diagnóstico e tratamento.

  •             A DH é causada por uma mutação no gene IT-15 que codifica a proteína Huntingtina (Htt) do cromossomo 4.
  •             Esse gene é encontrado em todos os seres humanos, e contém uma sequência de repetição do trinucleotídeo CAG.
  •             É normal ter um número baixo de repetições CAG.
  •             Em um caso de DH, o gene contém um número anormalmente grande de repetições CAG, em geral mais de 40 unidades.
  •             Pessoas com uma repetição inferior, de 27 a 39 repetições CAG, podem ser afetadas muito tarde na vida ou talvez nunca cheguem a apresentar sintomas, mas podem transmitir o gene.
  •             Por outro lado, um número grande de repetições está relacionado ao surgimento dos sintomas mais cedo na vida.
  •             Nos casos de DH infantil, por exemplo, quando crianças com menos de 10 anos apresentam os sintomas, o número de repetições CAG passa de 80.

Infelizmente, ainda não existe cura ou tratamento que possa interromper, retardar ou reverter a progressão da doença. No entanto, existem muitos tratamentos e intervenções que podem ajudar a controlar os sintomas da DH. No Brasil, ainda existem muitos desafios, como a falta de tratamentos disponíveis no Sistema Público de Saúde (SUS) e até mesmo de um Protocolo Clínico e Diretrizes de Tratamento (PCDT), que estabelece os critérios de diagnóstico de cada doença, com informações para tratamento, dosagens e etc.

Para o tratamento do sintoma da coreia, há três abordagens possíveis:

  •             o uso de inibidores de VMAT2, como a tetrabenazina (medicamento não disponível no SUS), que reduzem a concentração de neurotransmissores na fenda sináptica cerebral;
  •             o uso de neurolépticos (antipsicóticos) típicos (haloperidol) e atípicos (olanzapina, risperidona), embora esses medicamentos não apresentem indicação para DH;
  •             e abordagens não-farmacológicas.

Um tratamento multidisciplinar pode englobar:

  •             Neurologistas e/ou psiquiatras: diagnóstico e prescrição de medicamentos para aliviar a ansiedade e a depressão.
  •             Psicólogos: apoio psicológico individual ou familiar.
  •             Fisioterapeutas: trabalhar com os pacientes e familiares para desenvolver força, movimentos com segurança, ajuste do ambiente doméstico e das atividades conforme necessário.
  •             Fonoaudiólogos e nutricionistas: ajudar na comunicação, comer e engolir com segurança e combater a perda de peso.

O apoio de todos é uma parte importante dos cuidados de DH. Família, amigos, entes queridos e companheiros muitas vezes assumem muitas das responsabilidades anteriores da pessoa com DH e ajudam nas atividades diárias e rotinas de cuidados quando eles não podem mais fazê-lo sozinhos. Cuidadores e crianças também podem precisar de apoio para os desafios e estresses que acompanham a DH.

REFERÊNCIAS

Alencar MA, Lopez AM, Figueiredo E, et alE05 Prevalence of Huntington's disease in Feira Grande, a small city in Northeastern BrazilJournal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry 2010;81:A22. Anderson KE, van Duijn E, Craufurd D, Drazinic C, et al. Clinical Management of Neuropsychiatric Symptoms of Huntington Disease: Expert-Based Consensus Guidelines on Agitation, Anxiety, Apathy, Psychosis and Sleep Disorders. J Huntingtons Dis. 2018. 7 (3):355-366 Associação Brasil Huntington (ABH) - https://abh.org.br/ Bates GP, Dorsey R, Gusella JF, Hayden MR, et al. Minimal prevalence of Huntington's disease in the South of Brazil and instability of the expanded CAG tract during intergenerational transmissions. Genet Mol Biol. 2019 Apr-Jun;42(2):329-336. Hughes S. New Guidelines on Neuropsychiatric Symptoms in Huntington’s. Medscape Medical News. Available at https://www.medscape.com/viewarticle/908855. February 8, 2019; Accessed: October 13th 2021 Huntington’s Disease Society of America (HDSA) - https://hdsa.org/ McColgan P, Tabrizi SJ. Huntington's disease: a clinical review. Eur J Neurol. 2018 Jan;25(1):24-34. National Institute of Neurological Disorders and Stroke (NINDS) Brain For Life - National Institute of Health (Estados Unidos) - https://www.ninds.nih.gov/Disorders/Brain-Life Pringsheim T, Wiltshire K, Day L, Dykeman J, Steeves T, Jette N. The incidence and prevalence of Huntington's disease: a systematic review and meta-analysis. Mov Disord. 2012 Aug;27(9):1083-91.

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