Suicídio e o luto de quem fica

Por Camila Tuchlinski

Setembro Amarelo vem se consagrando nos últimos anos como o mês em que nós, profissionais de saúde mental, falamos muito sobre prevenção ao suicídio. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, a tendência de suicídios gerados após um longo período de depressão é maior entre os homens no Brasil: 12,6% a cada 100 mil. No mesmo estudo da OMS, as mulheres representam 5,4% a cada 100 mil, mas elas são as que mais tentam tirar a própria vida.

A depressão é a comorbidade mais ligada ao suicídio. A pessoa se sente incapaz, sem motivação para fazer as coisas mais básicas do dia a dia e, o pior, a sensação de desesperança prevalece. A visão de mundo fica opaca, sem perspectiva.

Aqueles que convivem com alguém com esse tipo de mal estar emocional pensam que trata-se de ‘uma fase’ e que ‘logo vai passar’. Porém, algumas frases podem soar como um pedido de socorro: ‘não sinto que faria falta nesse mundo’, ‘a vida perdeu o sentido’, ‘me vejo sem propósito’.

Como a morte é um tabu – e o suicídio ainda mais -, quem ouve isso logo diz: ‘ah, mas você tem emprego, um amor, família…está melhor que muita gente!’, ‘isso é falta de Deus’ ou ‘você precisa parar de pensar nisso e sair para se distrair’. Essa é uma reação de quem silencia a dor do outro. E a pessoa que pensa em suicídio só quer ser ouvida.

Diante de uma rede de apoio ineficaz, em que não se tem uma escuta ativa, não é oferecida ajuda psicológica e psiquiátrica, infelizmente muitos acabam partindo. E a notícia do suicídio choca familiares, amigos e comunidade: ‘puxa, mas quem diria que essa pessoa estava tão mal assim?’. Para os mais próximos: ‘como não percebemos antes?’.

E, então, prevalece o sentimento de culpa. No caso de cônjuges, pais, filhos, irmãos e aqueles que possuem um vínculo maior, há um ‘revisitar’ de situações com quem morreu. Repensar o que foi feito para acolher, a ajuda oferecida e a trajetória de vida são comportamentos esperados no luto de quem fica. Ao mesmo tempo, o suicídio é um dos atos mais individuais de um ser humano, que é movido por uma forte reação emocional – em alguns casos impulsividade -, e com quadros clínicos psíquicos relevantes.

Assim como outras situações de morte, o luto em casos de suicídio precisa ser bem elaborado, respeitando o tempo de cada um e ressignificando a relação com quem partiu, buscando auxílio de psicoterapeutas nessa caminhada.

E para você que nota os sinais de alerta com quem convive, lembre-se que a prevenção ao suicídio é possível, aliás, cada vez mais necessária na nossa sociedade.

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