Por que você precisa olhar com generosidade para sua solteirice?

Por Camila Tuchlinski

É verdade que as pessoas só entendem que são humanas a partir de outras. Porém, o que contesto é: isso está necessariamente ligado ao relacionamento amoroso?

No Brasil, 15 de agosto é a data dedicada ao Dia do Solteiro. A ocasião não é tão popular como o Dia dos Namorados já que, socialmente falando, somos estimulados, desde a tenra idade – e sobretudo as mulheres, mas esse assunto daria outro artigo -, a encontrar um amor. Basta lembrar dos desenhos animados da Disney de outrora em que o final vinha acompanhado do ‘e viveram felizes para sempre’.

Pesquisadores de todo o mundo tentam provar que estar solteira pode ser atrelado a uma série de doenças. De acordo com um estudo feito pelo Hospital Universitário de Würzburg, na Alemanha, pessoas com insuficiência cardíaca solteiras correm maior risco de morte do que as casadas com a mesma condição. “A conexão entre casamento e longevidade indica a importância da sociedade”, afirmou Fabian Kerwagen, autor da pesquisa.

É verdade que as pessoas só entendem que são humanas a partir de outras. Porém, o que contesto é: isso está necessariamente ligado ao relacionamento amoroso?

A troca afetiva entre companheiros pode não dar conta de preencher lacunas emocionais importantes para ambos. Um exemplo clássico é a cena de um casal em um restaurante, mas interagindo praticamente nada entre si. Até mesmo dentro de casa, enquanto assiste a um filme, enquanto deita na cama, enquanto conversa sobre assuntos aleatórios: a solidão pode invadir sua alma. ‘Eu estou casada, não deveria me sentir assim. Era para sermos felizes para sempre’, você pensa. Na vida, a maioria das coisas sai do ‘script’.

Se sua solteirice veio depois de um divórcio ou se esse foi um caminho natural, alguns sentimentos são comuns como: rejeição, culpa, tristeza, decepção. No entanto, é possível trocar tudo isso por uma palavra que tem ganhado cada vez mais popularidade: solitude. No latim significa ‘a glória de estar sozinho’. Para chegar a esse ponto, você precisa passar por um processo.

Antes de mais nada, é preciso olhar com generosidade para sua história de vida. Entender que as feridas do passado, e que se tornaram cicatrizes agora, tiveram importância na sua caminhada do ‘tornar-se pessoa’. Ao fazer as pazes com situações que fugiram do seu controle, você estará pronta para contemplar a solteirice. E ela pode ser (e é!) prazerosa também.

Estar solteira (legalmente falando é um estado civil, né?) pode te oferecer inúmeras possibilidades. Como psicóloga, é claro que vou puxar a vantagem para o lado da saúde mental: sem distrações amorosas e toda a energia que demanda um relacionamento amoroso, há mais espaço para promover o autoconhecimento, experimentando situações novas, livres do julgamento do companheiro ou companheira.

Para quem já viveu um relacionamento monogâmico – oficialmente a maioria no Brasil -, é extremamente libertador não ter de dar satisfações corriqueiras que vão desde o horário que vai almoçar até com quem vai tomar um café, por exemplo. Para quem já esteve preso a uma dinâmica tóxica amorosa, isso é ainda mais significativo.

A solteirice também pode dar mais chances de manter sua autenticidade. Quando você conquista romanticamente alguém, por mais sincero que seja, sempre quer agradar o outro, se distanciando muitas vezes da própria essência. Se está solteira, pode se permitir ser quem se é. No mundo ideal, deveríamos respeitar isso inclusive nas dinâmicas amorosas, mas infelizmente isso não é regra.

Portanto, há muitos motivos para comemorar o Dia do Solteiro. Curtir a própria companhia é tão importante quanto muitas outras coisas na nossa vida.

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