Obesidade e saúde mental

Por Camila Tuchlinski

Uma das coisas mais perversas no ciclo de comorbidades relacionadas a obesidade que a sociedade negligencia são as questões relacionadas à saúde mental desta população.

É indiscutível que a obesidade é uma questão de saúde pública, sobretudo levando em consideração o número de pessoas que precisam de atendimento, mas não conseguem um acolhimento multidisciplinar, seja no SUS ou nos serviços particulares. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde divulgada em 2020, atualmente mais da metade dos adultos no Brasil apresentam excesso de peso (60,3%, o que representa 96 milhões de pessoas), com prevalência maior no público feminino (62,6%) do que no masculino (57,5%).

A obesidade está relacionada a uma série de comorbidades e doenças crônicas, como diabete, intolerância à glicose, hipertensão e problemas cardíacos, apnéia do sono, artrite degenerativa, hipoventilação e tantas outras.

Mas uma das coisas mais perversas nesse ciclo é o quanto a sociedade negligencia as questões relacionadas à saúde mental desta população, que ainda luta contra o estereótipo de que ‘pessoas gordas são preguiçosas’, ‘não conseguem emagrecer porque não querem’, ‘não são esforçadas’. Junto à gordofobia, essa dinâmica parece servir como argumento para isentar autoridades também da responsabilidade de agir diante da demanda.

Quando uma pessoa com obesidade, por exemplo, escuta do companheiro ou companheira que ‘precisa emagrecer’, isso pode gerar um sentimento de fracasso, cujo efeito será a compulsividade alimentar – muito presente já em quadros como este. Ansiedade e depressão são diagnósticos de saúde mental muito presentes também e que necessitam de cuidados específicos e acolhimento simultaneamente ao tratamento.

O histórico de quem tem obesidade pode ser de sucessivas tentativas de dietas restritivas, que causaram um registro emocional negativo, afetando também a autoestima, intensificando o sentimento de frustração e falta de esperança em cuidar de si.

Tudo isso pode afastar a pessoa com obesidade da ajuda que ela precisa (e quer!). Enquanto o poder público não se atentar para a importância da saúde mental nesse processo, estaremos sempre muitos passos para trás na caminhada.

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