Movimento antivacinas é um perigo mundial

Luiz Alexandre Souza Ventura*

Fortalecido pela desinformação, dificuldades de acesso ou até por questões religiosas, o movimento antivacinação está na lista dos dez maiores riscos à saúde global da Organização Mundial da Saúde (OMS), da qual fazem parte os vírus HIV e do ebola, dengue e influenza.

“É uma ameaça real que pode reverter o progresso obtido até hoje no combate a doenças evitáveis”, alerta a OMS. “A vacinação evita entre 2 e 3 milhões de mortes por ano. Com a ampliação dessa cobertura, temos mais 1,5 milhão de óbitos que podem ser evitados”, ressalta a Organização.

No Brasil, o Ministério da Saúde mantém campanhas constantes para estimular a vacinação, o que inclui uma defesa enfática das imunizações. “O que não tem remédio, para seus filhos ou dos outros, é espalhar fake news sobre saúde. Com respaldo técnico de equipes especializadas, o Ministério da Saúde garante que a vacinação é segura, sendo que seu resultado não se resume a evitar doenças. Vacinas salvam vidas. A recomendação é: não dê ouvidos às notícias falsas e vacine-se!”, destaca a pasta.
Nosso País aplica, segundo o Ministério, 30 milhões de doses das vacinas incluídas no calendário nacional que contempla recém-nascidos, crianças, adolescentes, adultos, idosos e indígenas.

Estão nessa lista 19 vacinas para 20 doenças: BCG, Hepatite B, Penta/DTP, VIP/VOP, Pneumocócia 10V (conjugada), Rotavírus Humano, Meningocócica C (conjugada), Febre Amarela, Hepatite A, Tríplice Viral, Tetra Viral, Varicela, HPV, Pneumocócica 23V, dTpa e Influenza (algumas contêm mais de uma vacina).

A tabela completa – com todas as orientações sobre idade, dosagem, indicações e precauções – está no website do Ministério da Saúde (clique aqui).

REFLEXO MUNDIAL – De acordo com dados da OMS, por causa da redução na cobertura de imunizações provocada pelo movimento antivacinação, em 2017, o número de casos de sarampo aumentou 30% em todo o mundo, incluindo países que já haviam erradicado a doença.
A estratégia de atuação da Organização Mundial da Saúde entre 2019 e 2023 tem como um de seus objetivos frear o aumento global do movimento antivacinas. Dez países, incluindo o Brasil, a Venezuela, as Filipinas e o Iêmen, são responsáveis por 74% do total do aumento de casos de sarampo entre 2017 e 2018.

SARAMPO NO BRASIL – Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Brasil é o terceiro país com maior aumento de casos de sarampo no mundo (saiba mais aqui).
Entre janeiro de 2018 e janeiro de 2019, o Ministério da Saúde encaminhou 15,5 milhões de doses da vacina tríplice viral (que combate o sarampo) para ações de bloqueio em Rondônia, Amazonas, Roraima, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Sergipe e Distrito Federal.
Apesar desse esforço, o Brasil registrou no mesmo período 10.274 casos confirmados de sarampo. Enfrentamos atualmente dois surtos: no Amazonas são 9.778 casos e, em Roraima, mais 355. Há também registros no Pará (61), Rio Grande do Sul (45), Rio de Janeiro (19), Pernambuco (4), Sergipe (4), São Paulo (3), Rondônia (2), Bahia (2) e Distrito Federal (1). Conforme informações da Agência Brasil, 12 pessoas morreram de sarampo nesse período, sendo quatro em Roraima, seis no Amazonas e duas no Pará.

CATAPORA – Um caso recente dos reflexos da disseminação de informações falsas ou equivocadas sobre as vacinas ganhou repercussão mundial. Massimiliano Fedriga, político italiano e principal porta-voz do movimento antivacinas no país europeu, contraiu catapora e ficou cinco dias internado.
Fedriga defendia o fim da vacina contra a doença que o atingiu, mas mudou de discurso. Mesmo contrário às imunizações, ele havia aplicado os remédios nos próprios filhos. O político chegou a afirmar que o programa italiano de vacinas obrigatórias para 12 doenças, vigente desde 2017, era “stalinista”, referência ao pensamento único e ao domínio absoluto de uma liderança.

PERIGOS E ALIADOS NA INTERNET – As redes sociais são terreno fértil para todo tipo de teoria da conspiração e, mais uma vez, para disseminação de informações falsas. Páginas e perfis que defendem a antivacinação surgem todos os dias, o que levou o Facebook a promover ações para reduzir o alcance desses conteúdos em todo o mundo. A rede tem aproximadamente 2,32 bilhões de usuários (130 milhões no Brasil).
Entre as medidas está a redução no ranking de grupos e páginas com conteúdo falso sobre vacinas no feed e na ferramenta de busca, retirando-os das recomendações da rede social. Os anúncios com conteúdo falso serão rejeitados e as contas poderão ser desativadas (saiba mais aqui).

Na página em português da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que faz parte da OMS, há uma lista com esclarecimentos sobre os mitos que envolvem a vacinação (consulte aqui). São dez questões que tratam de higiene, efeitos colaterais, combinações, doenças, vírus, componentes e até o autismo.

VACINAS E AUTISMO
– Um estudo com mais de 650 mil crianças dinamarquesas durante dez anos derrubou a tese de uma suposta ligação entre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e a vacina tríplice viral, que imuniza contra sarampo, caxumba e rubéola.
A informação foi publicada na Annals of Internal Medicine (American College of Physicians), associação americana formada por 154 mil médicos, estudantes e pesquisadores da área. O artigo reuniu resultados do Statens Serum Institut de Copenhague.

HIPÓTESE – Em 1998, o médico britânico Andrew Wakefield escreveu artigo no qual estabeleceu a hipótese de vínculo entre a tríplice viral (conhecida pela sigla em inglês MMR) e o autismo. Na época, ele havia feito um estudo com 12 crianças. A tese foi refutada com várias pesquisas posteriores, inclusive esse novo estudo.
A pesquisa de Wakefield foi retirada do ar pela publicação médica The Lancet. E seu autor perdeu a licença médica no Reino Unido, após processo que avaliou diversas acusações de má conduta profissional relacionadas ao estudo (saiba mais aqui).

LIVRO – Dois integrantes da diretoria da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) lançaram em 2018 o livro ‘Vacina – Sim ou Não’ (MG Editora), no qual apresentam uma defesa veemente das imunizações (clique aqui).

*Luiz Alexandre Souza Ventura é jornalista colaborador da CDD

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