Aqui na CDD falamos de condições crônicas. E uma condição crônica, simplificando, é algo pelo qual temos que passar por um longo período de tempo, quando não, por toda a vida. Uma doença pode ser uma condição crônica, uma dor pode ser uma condição crônica, mas coisas boas que escolhemos nessa vida são também condições crônicas, como a maternidade.
Para nos tornarmos mães, precisamos renunciar um bocado de coisas das nossas vidas e permitir que outras tantas novas tomem

As mudanças, chegadas e partidas começam já na gravidez. A gravidez muda a gente completamente. Desde o corpo, que vai ficando redondinho redondinho, até nossa alma, nosso ser, que passar a ser outro, passa a ser o eu mãe.
Precisamos começar a conhecer um mundo que antes era só daquelas mulheres com quem convivemos, as mães. Precisamos, ainda na gravidez, ler, entender, ouvir, perguntar tudo sobre a criação desses serzinhos que vem ao mundo.
Precisamos parar de comer e beber algumas coisas, mudar hábitos diários, aceitar (e ser grato a) o cuidado do outro quando necessário.
Precisamos entender esse corpo com novas curvas, com secreções antes desconhecidas, com mais peso, com dores nas costas, azia na hora de dormir e pontadas nas costelas, na bexiga, na vagina.
A gente começa a olhar os bares e restaurantes que tem área kids, a ler sobre açúcar, papinhas, fraldas, cadeirinha pra carro e descobre como é caro tudo que é de bebê.
A gente aprende coisas que não precisava antes de nos tornarmos mãe. Não porque não fossem informações úteis, mas não faziam parte da nossa vida. E não precisavam fazer.
Nessa caminhada a gente conhece outras mães e outras grávidas. A gente herda conhecimento e até roupinhas e utensílios dos filhos dessas mães que nos ajudam nesse início. Parece que é muita coisa pra absorver, mas a gente vai aprendendo e vai vendo o que, da experiência dos outros é útil pra gente. A gente cria as próprias estratégias de sobrevivência e vai curtindo todo essa transformação na nossa vida. A gente entende que não é fácil, mas não é impossível e que pode ser lindo.
Depois que os filhos nascem, muda o corpo de novo, muda a vida, a rotina, as horas, os dias e as noites. E a cada fase de crescimento dos nossos rebentos, novos aprendizados precisam ser aprendidos. Novas transformações nas nossas vidas acontecem. Outras coisas precisam ser acomodadas nas nossas rotinas.
E tudo isso é para sempre!
Eu sou mãe de um menino de 2 anos e meio. E tenho esclerose múltipla, uma doença crônica, há 19 anos. E, por isso, posso dizer que o diagnóstico da EM também mudou completamente a minha vida. Da mesmo forma que a maternidade, ao ter um diagnóstico de uma doença crônica precisamos nos habituar com esse corpo diferente, esse corpo que tem uma doença e que precisa de muitos cuidados especiais. Esse corpo que dói, que pinica, que não obedece. Precisamos nos acostumar com um novo ritmo de vida. Precisamos nos acostumar com um novo vocabulário e siglas como RM, EM. A gente precisa aceitar (e ser grato a) o cuidado do outro, que as vezes se torna mais que necessário.
A gente começa a prestar atenção nos bares e restaurantes que tem acessibilidade, muda alimentação, hábitos de sono, toma um monte de remédios e aprende até a se dar injeção.
A gente aprende coisas que não precisava antes de ter EM. Não porque não fossem informações úteis, mas não faziam parte da nossa vida. E não precisavam fazer. Nessa caminhada a gente conhece outras pessoas com EM. A gente conversa com elas e aprende muito sobre essa experiência. Parece que é muita coisa pra absorver, mas a gente vai aprendendo e vai vendo o que, da experiência dos outros, é útil pra gente. A gente cria as próprias estratégias de sobrevivência e vai curtindo todo essa transformação na nossa vida. A gente entende que não é fácil, mas não é impossível e pode ser lindo.
Viu só como tornar-se mãe e ter um diagnóstico pode ser parecido?
A verdade é que quando se trata de condições crônicas, escolhidas ou não, a gente nunca mais vai ser quem era antes desse fato. Nunquinha. Nem por um segundo. E isso não é necessariamente ruim.
Podemos encarar as mudanças nas nossas vidas como mortes e como nascimentos. Tanto uma coisa quanto outra é passagem, é caminho que se faz. Tanto morte quanto nascimento são experiências decisivas e traumáticas. E ambas podem trazer sofrimento e/ou felicidade. Aí vai da gente, da forma como a gente percebe as mudanças, escolher o que vai ser.
A maternidade dos comerciais de TV sempre é linda, maquiada e sem sofrimento. Mas na vida real, a gente, que é mãe, sabe o quanto pode ser difícil.
Só quem é mãe sabe o que teve de morrer dentro de si para que a vida nascesse. E dizer isso não quer dizer que ser mãe é ruim. Pelo contrário, hoje eu não sei nem dizer o que é a vida sem ser mãe. Não consigo me imaginar um minuto sem ser mãe.
Porque a maternidade é crônica. Ela estará com a gente mesmo quando nossos filhos não estiverem com a gente. A E nós, como mães, seremos sempre mães, mesmo quando não estivermos mais com nossos filhos. Se fosse usar o vocabulário médico das doenças, a maternidade é algo incurável. E que bom que assim o é.
Feliz #maternidadecrônica para você!

Bruna Rocha Silveira
Equipe de Comunicação CDD
Vice-presidenta da AME – Amigos Múltiplos pela Esclerose

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