Amamentação: a importância do apoio da família

*por Ligia Moreiras Sena, publicado originalmente no blog Cientista que virou mãe, na Semana Mundial de Amamentação

 

Estamos na Semana Mundial de Amamentação. Tem muita gente envolvida em promover, incentivar, orientar e ajudar mulheres a serem mulheres-mães-nutrizes e amamentarem seus filhos. A rede Parto do Princípio está promovendo uma blogagem coletiva sobre o assunto. Eu faço parte dessa iniciativa, juntamente com mais 9 blogs. Você pode ver os links para essas postagens ao final desse texto.

Escolhi falar, dessa vez, sobre um tema que é de imensa importância quando o assunto é o sucesso da amamentação: A FAMÍLIAA influência que a família exerce sobre a mulher que amamenta e, consequentemente, sobre o sucesso da amamentação. E quero dar uma sugestão: se você é mãe ou vai ser, amamenta ou quer amamentar, imprima algumas cópias desse texto a partir do próximo parágrafo (se gostar dele, claro), coloque em envelopes bem bonitinhos e dê de presente para algumas pessoas quando o pessoal for conhecer seu novo filho.

É um erro achar que é a mulher sozinha quem alimenta uma criança. Quando uma mulher começa a amamentar, a família toda amamenta com ela. E vai amamentar ou não, vai amamentar bem ou mal, vai se sentir à vontade ou oprimida, na dependência do apoio que receber da família. Portanto, esse não é um texto para as mães, é um texto para as famílias ao redor de uma nova mãe. É um texto para o companheiro, as avós, os avôs, as irmãs, os irmãos, as comadres, os compadres, os amigos íntimos, todo mundo que vai receber o novo bebê – e a nova mãe. Sempre nasce uma nova mãe quando chega um novo bebê. E é um momento muito delicado, difícil, marcante, de muitas mudanças. A mulher precisa de colo, tanto quanto o filho. Precisa de abraço, precisa de amparo, precisa de compreensão e aconchego. Disso tudo depende também o bem-estar do bebê. E precisa disso tudo, também, para que possa amamentar bem. O leite que a mãe produz é tudo o que um filho precisa. Ele não precisa de mais nada por 6 meses, acredite! A Organização Mundial da Saúde não se enganaria sobre isso… Ele não precisa de água, ele não precisa de chá, ele não precisa de leite de vaca. Ele precisa do leite da mãe dele, se ela não tiver nenhuma limitação física ou fisiológica que a impeça de amamentar. O filho precisa do leite da mãe. E a mãe precisa de apoio.

Ela precisa de palavras de incentivo. Ela precisa de atitudes de apoio pra aprender como amamentar. Ela precisa de paciência, de palavras amorosas. Ela precisa, sobretudo, de exemplo. Porque ela pode estar muito vulnerável e, de repente, se deixar influenciar por alguma bobagem dita no momento errado.

Ela NÃO precisa de palavras ásperas como: seu leite é fraco. Mesmo porquê, isso não só é uma  grosseria cruel, como também é ignorância. Não existe leite fraco ou forte. Existe o leite IDEAL para aquele bebê. Isso é uma mentira absurda que é passada de geração para geração. O único caso em que o leite pode ser fraco é quando a mãe está muito desnutrida. Fora isso, aquele é o melhor leite que pode haver.

Ela NÃO precisa de impaciência como: dá logo uma mamadeira pra essa criança pra ela parar de chorar. Ela precisa de companhia paciente e que a incentive: “Insista, amamente mais, é normal o bebê chorar. Não se desespere, confie que você pode, você é a mãe dele, é de você que ele precisa. Dê de mamar. Amamentar acalma, tranquiliza, faz se sentir amado. Mãe e filho”.

Ela NÃO precisa do exemplo de uma pessoa que não quis amamentar e cujos filhos sobreviveram. Ela não quer que o filho dela “sobreviva”. Sobreviver significa: escapar, viver a despeito de um problema, ou de alguma coisa. Sobreviver não é o objetivo. Ela quer que o filho VIVA. Plenamente. E precisa dela pra isso. Se você não amamentou seus filhos, agora é uma boa hora para amamentar simbolicamente: ajude-a na amamentação. Um travesseiro nas costas, uma almofada embaixo do bebê, um cobertor, um ventilador, um copo d’água, um beijo: isso é amamentar a mãe, para que ela amamente o filho.

Ela NÃO precisa de alguém a recriminando por amamentar em público. Ela precisa de alguém de mente aberta que a apoie nesse momento e se orgulhe por ela ter a consciência de que isso é importante. Um bebê sente fome em qualquer lugar e, também em qualquer lugar, precisa ser alimentado.

Ela NÃO precisa de alguém que fique dando conselhos fundamentados em crenças pessoais. Ela precisa de alguém que saiba o que está falando – ou que não fale se não tiver certeza. E como alguém pode saber o que está falando? Lendo sobre o assunto, procurando boas informações na internet, se preparando para ajudar aquela família que está aumentando. Por exemplo, se o leite empedrar, não tem problema: é reduzir o aporte líquido, colocar a criança para mamar repetidamente naquela mama, fazer uma boa ordenha manual embaixo do chuveiro quente, e logo desempedrará… Não vá dizer que se empedrou, tem que parar de amamentar. Isso não é ajuda. Isso é pitaco. E de pitaco já bastam as dezenas que ela vai ouvir quando sair de casa… Você não tem tempo para pesquisar sobre o assunto? Puxa vida, mas demorou 9 meses pra essa criança nascer… Não deu tempo? Então aproveite agora. Digita lá: “como ajudar a amamentar”. Vai abrir um monte de coisa útil. Como isso aqui, por exemplo: um livro disponibilizado gratuitamente pela Fundação Oswaldo Cruz, chamado “Como ajudar as mãe a amamentar”, de F. Savage King, já traduzido para o português. É só abrir o link clicando aqui, salvar e ler.

Ela NÃO precisa que alguém lhe diga até quando amamentar um filho. Isso é coisa entre ela e o filho. Não precisa de incentivo para o desmame. Um desmame mal feito pode gerar mães e crianças inseguras e ansiosas. Se você não acha legal uma mãe amamentar prolongadamente um filho, sem problemas. É só não olhar quando o bebê estiver mamando. Mas não se sinta no direito de pressioná-la pelo desmame. Não é você quem decide isso.

E confie: isso não é bobagem. Receber um bom apoio pode ser decisivo para uma boa prática de amamentação. Muitos estudos sérios comprovam que o apoio familiar, principalmente do marido e da avó, são fatores importantes para o sucesso da amamentação.

“A presença e a ajuda do marido em casa colaboram positivamente para a prática do aleitamento. Além disso, a aprovação e as atitudes do esposo em relação ao aleitamento materno são consideradas pelas mulheres na decisão de amamentar ou não. (…) as avós podem influenciar negativamente na duração do aleitamento materno e alguns autores observaram que o apoio das mães ajudou no início e/ou na manutenção da amamentação”.

(Cândida Primo e Laíse Caetano, no artigo “A decisão de amamentar da nutriz: percepção de sua mãe”)

Se tem uma gestante na sua família, prepare-se para cuidar dela, para ajudá-la quando o bebê nascer. Se já tem um bebê aí sendo amamentado, olhe para a mãe e se pergunte: “Como posso ajudá-la a amamentar?”. É por isso e por mais um monte de coisa que sempre se diz que a amamentação é benéfica para toda a família. É um momento único de união, amparo e apoio, se for bem aproveitado, claro. Do contrário, pode se transformar num momento de angústia para a nova mãe, e não é isso que ninguém deseja. Ou é?

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