Asma, a doença crônica mais comum no Brasil

Luiz Alexandre Souza Ventura*

O Brasil tem 20 milhões de pessoas com Asma, segundo dados do Ministério da Saúde. É a doença crônica mais comum no País. São crianças, adolescentes e adultos que convivem com restrições respiratórias de impacto substancial na qualidade de vida, exige visitas frequentas a salas de emergência e gera internações constantes em hospitais.

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do Ministério da Saúde e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 6,4 milhões de brasileiros com mais de 18 anos têm Asma e, por suas características, limitações para atividades físicas, convivem com perda escolar e também no trabalho. A condição é identificada por sintomas como tosse, chiado ou aperto no peito, falta de ar durante o dia e despertar noturno.

Aproximadamente 4 milhões de pessoas têm Asma Grave no Brasil. E, nesse grupo, há 1 milhão de casos nos quais a doença não está controlada.

CUSTOS –
O Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) registra mais de 120 mil hospitalizações por ano. “Internações custam US$ 170 milhões (R$ 537 milhões) por ano para o Sistema de Saúde Pública. Este é o cenário da asma no Brasil, justificando ampla discussão junto ao poder público para uma implementação efetiva de novos programas em saúde pública em caráter nacional”, afirma Paulo Pitrez, professor da Escola de Medicina, pneumologista pediátrico e pesquisador do Centro Infant e diretor do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUCRS.

“O acesso a medicamentos básicos para o tratamento da Asma na Farmácia Popular foi um real avanço em saúde pública. Mostramos em estudo que hospitalizações por Asma reduziram em 30% após a implementação deste programa pelo governo federal”, comenta o médico.

“É importante destacar, no entanto, que entre 30% e 40% dos pacientes com Asma apresentam um quadro mais grave da doença, necessitando da associação de outra medicação ao tratamento (broncodilatador de longa ação), de difícil acesso, com necessidade de preenchimento de documentos, realização de exames (espirometria) e processos burocráticos de encaminhamento pelo paciente para sua obtenção junto ao SUS. Os pacientes que mais sofrem com a doença são aqueles que têm mais dificuldade ao acesso a medicamentos essenciais para o seu tratamento”, destaca o professor.

MEDICAMENTOS BIOLÓGICOS – Pitrez afirma que o Omalizumabe foi o primeiro do tipo biológico. Na Europa e América do Norte, é a primeira escolha atualmente no tratamento de aproximadamente 1% das crianças e adultos com Asma que apresentam quadro muito grave da doença, têm limitação severa na sua vida diária e não respondem bem a nenhum tratamento do SUS.

“No Brasil, a resposta de pacientes com Asma Grave refratários ao tratamento convencional é significativa, particularmente em crianças. O uso do omalizumabe em crianças com Asma Grave reduziu hospitalizações em 70% e aumentou o controle da doença em 90% dos casos”, diz Pitrez.

ESTIGMA – “Muitos médicos apresentam o diagnóstico de bronquite, ou bronquite asmática, para não usar a palavra ‘asma’ por causa do estigma, porque é uma doença crônica que não tem cura”, afirma a pneumologista Angela Honda, do departamento de reabilitação pulmonar da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp) e que comanda a área respiratória da AstraZeneca Brasil. “Existem tratamentos que garantem ao paciente uma vida normal”, diz a especialista.

No corpo de uma pessoa que tem asma, os brônquios (tubos que levam o ar para dentro dos pulmões e o gás carbônico para fora) sofrem inflamações e se contraem, reduzindo o espaço da passagem. “Comparando o pulmão com uma árvore, os brônquios seriam os galhos. São estruturas musculares que têm cartilagens. Durante a inflamação, esse músculo fica contraído e se fecha”, explica Angela Honda.

No caso da asma grave, as inflamações dos brônquios surgem com mais frequência, inclusive diária. “Existem fatores que desencadeiam as crises de asma, como poluição, fumaça de cigarro, frio ou mudanças rápidas de temperatura e até estresse emocional”, ressalta a pneumologista.

A médica comenta que a falta de conhecimento sobre a doença e o acesso restrito a medicações biológicas prejudicam pessoas que convivem com a asma grave. “Tivemos o relato muito positivo de uma paciente que iniciou o tratamento biológico e, a partir do uso dessa medicação, conseguia dormir usando pijamas”, conta a coordenadora.

A explicação para essa situação é que as crises da paciente eram tão frequentes e rápidas, inclusive durante a noite, que ela precisava correr para o pronto-socorro. Por precaução, durante muito tempo, se deitava já vestida para sair.

“A asma mata três pessoas por dia no Brasil, segundo dados da GINA – Iniciativa Global Contra a Asma“, diz Angela Honda. “A doença tem tratamento, inclusive nos casos mais graves. O arsenal terapêutico melhorou muito. É fundamental identificar o paciente e fazer o diagnóstico correto”, alerta a pneumologista.

“Pessoas com asma grave, sem controle com terapias tradicionais, estão sempre em pronto-socorros ou são internadas, e vivem num ciclo de visita a vários médicos, porque culpam o médico pelo problema, e as investigações recomeçam do zero. Outro problema é o tratamento constante apenas das crises, nas salas de emergência, sem acompanhamento de um especialista”, comenta Angela Honda.

TRATAMENTOS – Uma forma de tratar a asma é a manutenção frequente, o tratamento crônico, quando o paciente usa medicamentos todos os dias, com ou sem sintomas, porque a inflação dos brônquios é constante. E a outra maneira é feita durante a crise. Existem casos nos quais a pessoa precisa fazer uso das duas formas.

Dois tipos de medicação são usados atualmente. Os remédios broncodilatadores relaxam o músculo bronquial e aumentam a passagem do ar. E os corticoides, que combatem as inflamações. “É melhor que ambos sejam inalatórios”, diz Angela Honda.

Pessoas que têm asma grave precisam de tratamentos adicionais e a sua rotina diária sofre um grande impacto, inclusive nas atividades mais básicas. “São pessoas que faltam muito ao trabalho porque estão sem condições físicas naquele momento ou porque estão internadas. A doença pode ser incapacitante”.

A evolução dos tratamentos nos últimos 15 anos, diz a especialista, é substancial, mas com investimento na educação de médicos e pacientes é possível garantir qualidade de vida a 80% das pessoas que têm asma grave. “Uma parte dessa população, mesmo com as terapias atuais, não tem a doença controlada. Por isso defendemos o uso das medicações biológicas, que conseguem tratar as inflamações em cascata”.

Angela Honda afirma que os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para Asma mantidos pelo Ministério da Saúde não atendem à demanda nacional. “Não é real dizer que há tratamento gratuito para todos os pacientes, porque muitas pessoas não conseguem os medicamentos, principalmente quem tem asma grave. O protocolo do governo não prevê nenhuma medicação biológica”.

DIAGNÓSTICO – “O problema da asma, da asma grave em especial, é o diagnóstico. A maior parte dos pacientes em tratamento tem asma moderada e grave, que se caracteriza por pacientes que usam muitas medicações com pouco ou baixa resposta, que não estão controlados”, diz Rafael Stelmach, pneumologista do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/HCFMUSP) e professor do departamento de cardiopneumologia da FMUSP.

O especialista explica que a asma de difícil controle está associada à baixa adesão ao tratamento ou muita exposição a fatores desencadeadores de crise, além de multimorbidades como rinite, sinusite, obesidade, refluxo e apneia sono.

“São pessoas que não respondem ao tratamento habitual com corticosteroides e broncodilatadores inalados em dose moderadas, sendo necessárias altas doses destes medicamentos, acrescidos de mais um broncodilatador, corticosteroide oral e, mais recentemente, imunobiológicos como o anti-IgE (omlizumabe) e anti-Il5 (mepolizumabe)”, afirma Stelmach.

O acesso da população em geral a diagnósticos corretos e tratamentos eficazes, ressalta Rafael Stelmach, é o “tendão de aquiles (roto)” do cenário nacional. “Como uma parte dos asmaticos só tem sintomas esporadicamente, há o conceito de que asma (ou popularmente bronquite) é uma doença passageira, mas ela é uma inflamação incurável cujos sintomas variam muito”, completa o médico.

FÓRUM – O cenário atual, perspectivas de tratamento e políticas públicas sustentáveis relacionadas à doença estão em pauta no ‘I Fórum Gaúcho de Asma e Asma Grave’, organizado pela associação Crônicos do Dia a Dia – CDD (https://cddold.puntocomunicacao.com.br/) realiza no dia 13 de julho em Porto Alegre (RS).

O evento vai reunir de profissionais da saúde e pessoas que convivem com a condição. Estão confirmadas as participações dos médicos pneumologistas Paulo Pitrez e Rafael Stelmach.

As inscrições gratuitas estão abertas e devem ser feitas pela internet, na página bit.ly/forumgauchoasma.

*Luiz Alexandre Souza Ventura é jornalista colaborador da CDD.

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