O que causa a alergia – e o que fazer em caso de uma crise

Fatores genéticos e ambientais influenciam a propensão a reações alérgicas. Cada alergia exige resposta individualizada para elaborar o plano de ação mais eficiente para cada pessoa

Por Bettina Gehm e Maurício Brum, da Redação AME/CDD

Respiratórias, de contato com a pele, alimentares. Quando o tema é alergia, o que não faltam são maneiras de desencadear uma reação, seja ela grande ou pequena. A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) estima que cerca de 30% dos brasileiros são alérgicos a algo, e cada quadro exige uma resposta diferente.

“É preciso fazer o diagnóstico correto e estabelecer o chamado plano de ação”, pontua a médica alergista Anete Sevciovic Grumach, membro da Asbai. O tal plano de ação consiste em definir os passos a tomar de acordo com o tipo e a intensidade da reação. 

“Para doenças alérgicas que causam crises agudas, ele estabelece quais medicamentos procurar ou qual o procedimento adequado no pronto-socorro. Cada vez mais doenças têm um plano de ação definido”, explica Grumach.

Genética é parte da explicação

Os estudos oferecem pistas, mas a medicina ainda não consegue cravar a razão pela qual algumas pessoas desenvolvem reações mais severas aos alérgenos (os agentes que entram em contato com o corpo e provocam uma resposta desagradável), enquanto outras conseguem passar ilesas diante deles. 

Uma das explicações é genética: sabe-se, por exemplo, que filhos de pais alérgicos têm um risco em torno de 50% maior de manifestar uma alergia do que na comparação com a população em geral. E o número pode chegar a 80% se os dois progenitores conviverem com o problema.

Mas o DNA não é a única explicação. “Não é um único gene que determina se a pessoa vai ser alérgica ou não”, diz Grumach. “Alguns pacientes têm uma mutação genética que faz a pele ser mais ressecada, e isso pode facilitar as lesões da dermatite atópica, por exemplo”, argumenta a médica. Ou seja, mesmo o fator genético é complexo. 

Reações na pele, aliás, costumam ser mais intensas na infância, bem como as alimentares. A Asbai calcula que as crianças representam em torno de 20% dos brasileiros com alguma alergia. A incidência desses dois tipos de reação tende a diminuir conforme elas crescem – embora não desapareça em todos os casos. 

Por outro lado, as alergias respiratórias, a exemplo da rinite e da asma, costumam permanecer e podem até piorar na idade adulta.

O impacto do ambiente na alergia

O que nos cerca também entra na equação do risco de alergias. O convívio com fumantes ou o simples fato de morar em uma cidade com maiores índices de poluição atmosférica são alguns dos fatores associados ao desenvolvimento de crises respiratórias ao longo da vida. Alterações climáticas e infecções virais também podem desencadear um quadro alérgico que não havia sido percebido anteriormente.

O impacto do ambiente nas alergias começa desde o nascimento. Um estudo sueco, por exemplo, apontou que crianças nascidas de cesárea teriam cerca de 20% mais chance de apresentar algumas alergias alimentares do que as vindas ao mundo em parto normal – isso estaria relacionada à exposição imediata à microbiota do canal vaginal da mãe. 

Também existe a chamada “teoria da higiene”, segundo a qual um mundo cada vez mais limpo – ou asséptico – estaria privando as crianças do convívio com alérgenos comuns encontrados na natureza, causando uma explosão de alergias nas últimas décadas.

Para combater isso, há até quem preconize uma exposição desde cedo a animais e a alimentos que costumam estar relacionados a crises mais severas. Essa postura, porém, não é consenso entre os especialistas, e iniciativas do tipo devem sempre contar com orientação médica. 

“O melhor, na verdade, é ter um controle regular e avaliar quais são os fatores mais importantes para o desencadeamento das crises”, resume Grumach.

Resposta à crise de alergia deve ser individualizada

A alergia em si é considerada uma doença crônica. Associada a outras condições de saúde, porém, pode exigir cuidados extras na hora do tratamento. 

“Quem usa um betabloqueador, um remédio para pressão alta, não vai responder a um tratamento típico para alergia no momento agudo”, exemplifica a médica. “Há medicamentos que a pessoa com doenças crônicas não pode tomar na hora da reação alérgica por causa de interações medicamentosas”, completa. É importante informar o médico sobre uso regular de diferentes fármacos. 

Também há situações em que alergias se sobrepõem e levam a uma confusão na hora de combater uma crise – especialmente para quem sofre com problemas respiratórios. A resposta imediata para uma crise de asma é usar um broncodilatador, mas se o problema para respirar for causado por outro tipo de alergia, como um edema de glote decorrente de uma picada de abelha, a inalação habitual não surtirá efeito, e será preciso recorrer a outro medicamento, como a adrenalina.

Por isso, especialistas apontam que a resposta a uma crise alérgica deve ser individualizada. Diante de uma reação severa, o ideal é procurar ajuda médica imediatamente, sem esquecer de alertar sobre outras doenças crônicas e tratamentos que a pessoa receba. 

Essas são informações fundamentais para que o chamado plano de ação tenha os melhores resultados. “Estamos caminhando para uma medicina de precisão, em que conseguimos oferecer medicamentos mais específicos para cada indivíduo”, celebra Grumach.

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