Osteoporose: poluição do ar acelera perda óssea feminina, indica estudo

Conduzida por pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, a pesquisa associou a perda da qualidade óssea em mulheres na pós-menopausa com poluentes atmosféricos

Por Fernanda Simoneto, da Redação AME/CDD

No Brasil, 10 milhões de pessoas vivem com osteoporose. A doença demora a emitir sinais claros, mas é responsável por cerca de 200 mil mortes por ano no país. As mulheres na pós-menopausa tendem a ser as mais afetadas. Agora, uma pesquisa norte-americana revela que um fator inusitado pode contribuir para a perda da qualidade óssea: a poluição atmosférica. 

O estudo, conduzido na Universidade Columbia, demonstrou que a baixa qualidade do ar pode ser um fator de risco para a perda da densidade óssea em mulheres no período pós-menopausa, atingindo principalmente a coluna vertebral. O dióxido de nitrogênio e o dióxido de enxofre representam o maior risco. Ambos são resultado da queima de combustíveis fósseis, com origem no tráfego de veículos e no setor industrial. 

A pesquisa analisou a densidade mineral óssea de 9 041 moradoras de diferentes regiões dos Estados Unidos, com condições raciais e socioeconômicas distintas. O estudo acompanhou os dados de cinco anos na vida das participantes entre 50 e 79 anos. 

Foram considerados no cálculo um aumento de 10% na concentração de dióxido de nitrogênio a cada três anos. Os pesquisadores notaram que a densidade mineral óssea da coluna vertebral das mulheres diminuía 0,026 gramas por centímetro quadrado a cada ano, e quanto maior a concentração do gás, menor a densidade mineral óssea.

A endocrinologista Narriane Chaves, diretora do Departamento de Metabolismo Ósseo e Mineral da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), afirma que a ciência já trabalha com a hipótese que a poluição é prejudicial para o esqueleto. A novidade é o público analisado: as mulheres na pós-menopausa.

O ar poluído expõe o indivíduo a uma série de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio que, em contato com as células do corpo, podem causar o chamado estresse oxidativo. “Esses poluentes estimulam a produção de substâncias pró-inflamatórias, como as citocinas e interleucinas, associadas ao dano celular”, explica a médica.

Alvo principal: a coluna

Outro achado importante do estudo foi o de que a coluna é a principal afetada pelos poluentes. Os resultados mostraram reduções anuais de 1,22% na região, o dobro do registrado em outras áreas. 

Narriane Chaves explica que a coluna é composta majoritariamente pelo osso trabecular, que tem uma taxa de metabolização e remodelamento mais intensa. O remodelamento ósseo é um processo contínuo que realiza a substituição de células ósseas antigas por novas.

“Talvez pela alta taxa de remodelamento ósseo, os poluentes prejudiquem mais rapidamente o osso trabecular”, sugere a diretora da SBEM.

Com a perda da qualidade óssea, cresce o alerta para o risco de fraturas, o desfecho mais grave da osteoporose. “A mulher na pós-menopausa naturalmente tem um risco aumentado de fraturas, porque sofre com a aceleração da perda da massa óssea”, diz Chaves. 

Dados divulgados pela Revista Brasileira de Ortopedia indicam que 28,7% das pessoas que sofrem fraturas no quadril morrem um ano após a lesão. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que, até 2050, o número de fraturas de quadril em todo o mundo deve chegar a 6,3 milhões. O aumento da expectativa de vida é uma das razões que explica o avanço deste tipo de lesão. As fraturas, no entanto, não se limitam somente ao quadril. São frequentes também nos punhos e na coluna. 

Como a deterioração do tecido ósseo é silenciosa, o diagnóstico da osteoporose muitas vezes só chega com a primeira fratura. Nos Estados Unidos, estimativas indicam que as lesões em decorrência da doença custam 20,3 bilhões de dólares anualmente em custos médicos.

Cautela

Apesar de o estudo agregar uma nova preocupação, Chaves pondera que a pesquisa tem caráter observacional. Ou seja, a relação de causa e efeito entre poluição e perda de massa óssea ainda precisa ser estudada. “Eu diria ser ainda precoce considerarmos uma relação de causalidade bem estabelecida. Mais estudos devem ser feitos para avaliar isso melhor”, afirma.

Apesar disso, a especialista considera que os achados devem ser levados em conta pelas autoridades da saúde pública. “De uma maneira geral, condutas e projetos de saúde pública que diminuam a poluição do ar, principalmente nas grandes cidades, são bem-vindas para a saúde em geral”, conclui.

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