Pessoas com doenças crônicas têm maior risco de suicídio

Limitações, tratamentos difíceis e custosos e estigma, favorecem o estresse e a sensação de desesperança e aumentam o risco de suicídio em pessoas com doenças crônicas; Especialista detalha como se proteger.

Valentina Bressan, da Redação AME/CDD

Entre os fatores de risco mais comuns para o suicídio segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estão questões socioeconômicas, transtornos mentais e dificuldades no acesso à saúde – e todos esses pontos afetam, de uma forma ou de outra, os pacientes com doenças crônicas. Pelo menos três estudos recentes revelam a associação entre condições crônicas e suicídio. 

Em 2017, um estudo publicado no American Journal of Preventive Medicine identificou que condições de saúde de difícil tratamento estavam associadas a um maior risco de tirar a própria vida. Cientistas de diferentes centros de saúde dos Estados Unidos avaliaram suicídios ocorridos entre 2000 e 2013 para chegar à conclusão. 

Outra pesquisa – realizada na Universidade de Toronto, no Canadá –  identificou pacientes com artrite e verificou que a dor crônica predispõe ao uso abusivo de drogas, um fator de risco para comportamentos suicidas.

O impacto das doenças crônicas na saúde mental é outra ameaça. Algumas patologias impõem restrições consideráveis, o que às vezes leva a isolamento, estresse e sentimentos de desesperança, que, por sua vez, predispõem ao suicídio. É o que identificou um artigo publicado em 2020 no Journal of Clinical Psychology in Medical Settings, em que pesquisadores reuniram diferentes estudos sobre suicídio e quais os fatores de risco mais prevalente em pacientes crônicos. Sentir-se um fardo para a família também foi um quesito observado. 

Do ponto de vista socioeconômico, ser diagnosticado com uma doença crônica não raro significa custos adicionais em saúde e, às vezes, maior dificuldade de se manter no mercado de trabalho. Esse segundo ponto, aliás, tem a ver com o preconceito sobre diferentes enfermidades do tipo. 

Entre elas, umas das que mais se destacam são as doenças crônicas de pele, como a psoríase e a dermatite atópica. Isso porque as marcas são erroneamente associadas a doenças contagiosas, o que afasta amigos, colegas de trabalho e, às vezes, até familiares.

Há ainda os chamados sintomas invisíveis de certas doenças crônicas. Exemplo: a fadiga em pessoas com esclerose múltipla. Como não enxergam a doença ou o cansaço, a população em geral tende a minimizar esse tipo de sintoma, o que promove uma sobrecarga emocional aos pacientes.

O psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, da Universidade Federal de Juiz de Fora, destaca ser fundamental minimizar esses e outros quesitos associados a sentimentos negativos. “Como qualquer problema de saúde, o suicídio é multifatorial: todos nós temos fatores de risco e fatores de proteção”, alerta.

A prevenção do suicídio

Ela precisa ser transversal, isto é, estar presente em todos os serviços de atendimento de saúde, e não apenas nos especializados. Um estudo publicado neste ano no Jornal Brasileiro de Psiquiatria chama atenção para o fato de que mais de 45% de indivíduos que cometeram suicídio receberam atendimento na Atenção Primária à Saúde (APS) no mês anterior à morte – e 88,7% nos seis meses que a precederam. 

Ou seja, há uma janela de oportunidade para identificar a ideação suicida, e os serviços de APS são essenciais aí. Infelizmente, entre as pessoas que cometeram suicídio do estudo, apenas 8,7% realizavam acompanhamento psicológico. 

Outra forma de prevenção é reduzir o acesso aos meios letais. “O acesso à arma de fogo com facilidade aumenta o risco de suicídio”, exemplifica Moreira-Almeida. 

Neste mês, a Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (ABPS) divulgou nota pública alertando para o aumento do risco de suicídio devido à facilidade de acesso a armas no Brasil. Entre 2018 e 2021, o número de registro de armas de fogo subiu quase 500% no país. Hoje são 4,4 milhões de armas nas mãos de brasileiros.

O documento da ABPS faz referência a uma pesquisa publicada em 2020 no periódico The New England Journal of Medicine. Os resultados da análise mostraram que as taxas de suicídio entre homens que possuem armas de fogo é oito vezes maior do que entre aqueles que não possuem. Entre mulheres, o número chega a ser 35 vezes superior. 

O foco da campanha de Setembro Amarelo reafirma a importância quanto à conscientização sobre o tema. Segundo a Organização Mundial da Saúde, as taxas de suicídio vêm diminuindo globalmente: entre 2000 e 2019, a queda foi de 36%. As Américas, porém, não acompanham essa tendência: os índices cresceram 17% no mesmo período. No Brasil, o aumento chegou a 43%. 

Moreira-Almeida destaca a importância de buscar apoio de amigos e familiares, praticar uma atividade física ou, ainda, desenvolver atividades que tragam sentido para a vida. “A mensagem central é que existem saídas possíveis. A maioria das pessoas que pensa em suicídio consegue encontrar meios para lidar com o problema”, afirma. “Dentro os modos mais eficazes, está a busca por tratamento”, destaca.

O especialista cita um estudo com 161 pacientes renais crônicos realizado em Juiz de Fora, Minas Gerais, em que se descobriu a associação entre espiritualidade e felicidade. “O que mais impactou na felicidade foi o processo de coerência: a pessoa enxergava os problemas da vida como algo com o qual conseguia lidar. O segundo preditor foi o nível de envolvimento religioso-espiritual: aqueles que tinham práticas e crenças religiosas enfrentavam melhor”, resume. 

Serviço:

Pessoas que não estiverem se sentindo bem podem procurar atendimento em saúde mental nas Unidades Básicas de Saúde, que encaminham para Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). O Centro de Valorização da Vida (CVV) também está disponível 24 horas por dia, gratuitamente, via chat, e-mail ou ligação pelo número 188.

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