OMS publica nova recomendação sobre uso de adoçantes; especialistas explicam o que muda na prática

A nova diretriz desestimula uso de adoçantes artificiais para fins de redução de peso e prevenção de doenças. Consumo individual, no entanto, deve considerar diferentes fatores e contar com orientação profissional

Valentina Bressan, da Redação AME/CDD

A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou recentemente uma nova diretriz sobre o uso de adoçantes. A entidade havia atualizado sua recomendação sobre redução do consumo de açúcares pela última vez em 2015, mas o crescente interesse nos seus substitutos impulsionou novas pesquisas. No documento, a entidade contraindica os adoçantes artificiais como medida para perda de peso ou para prevenção de doenças crônicas, duas das razões que mais geram interesse na sua procura. 

Os adoçantes considerados pela OMS incluem o acessulfame de potássio, o aspartame, o advantame, o ciclamato, o neotame, a sacarina, a sucralose e os derivados de stevia. São todas substâncias que apresentam quantidade baixa ou nula de calorias – elas são frequentemente adicionadas a produtos processados ou consumidas juntamente com eles. 

A recomendação não se estende à adição de adoçantes em produtos de higiene, como pastas de dentes ou medicamentos. A diretriz também não contempla pessoas que já têm diabetes: como foca na prevenção de doenças, esse grupo foi desconsiderado nas avaliações.

O consumo excessivo de açúcares é um fator de risco para a obesidade e, de forma relacionada, de doenças crônicas relacionadas à dieta. No Brasil, de acordo com dados de 2020, mais da metade dos adultos têm excesso de peso. Embora vistos como uma opção há décadas, os adoçantes ainda não têm seus efeitos de longo prazo totalmente conhecidos. 

“Os adoçantes não trazem benefícios em termos nutricionais, são apenas substitutos do açúcar para permitir que as pessoas sintam o gosto doce sem a elevação da glicemia e sem a caloria associada ao uso do açúcar”, explica a endocrinologista Melanie Rodacki, vice-presidente do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Eles foram criados justamente para quem precisa conter a glicemia, como pessoas com diabetes – para quem, reforçamos, a OMS não retirou a recomendação de consumo. 

As evidências que motivaram a nova diretriz são fruto de diferentes pesquisas e revisões. De forma geral, mesmo quando se notou um efeito na redução de peso nesses artigos, os resultados foram pouco significativos, e a OMS não os considerou como capazes de gerar melhorias na saúde – já que, para trazer benefícios, uma dieta saudável e a redução do peso precisam ser mantidas a longo prazo.

Especificamente em pesquisas que acompanharam os participantes por períodos estendidos, cientistas encontraram resultados intrigantes. Ao contrário do imaginado, a tendência foi associar o consumo de adoçantes com IMC elevado e risco de obesidade. Alguns estudos ainda sugeriram que, no longo prazo, adoçantes podem aumentar o risco de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e mortalidade. 

Ainda é necessário estabelecer evidências mais sólidas sobre essas possíveis ligações. Por enquanto, uma hipótese é que o aumento do peso indicado pelas pesquisas possa ser um passo intermediário para o desenvolvimento das doenças como diabetes. A OMS também pondera que, em pesquisas com amostras mais abrangentes, pessoas que já haviam predisposição ao diabetes foram incluídas. 

“É importante que não haja uma interpretação exagerada de que os adoçantes são prejudiciais à saúde”, argumenta Rodacki. Segundo a endocrinologista, é preciso avaliar com cuidado as populações nas quais os produtos foram testados. 

Pode, por exemplo, haver um viés causado pelo fato de muitos consumidores desses produtos já lutarem contra excesso ou comerem mais ultraprocessados. Consequentemente, eles têm um risco maior de de problemas que não necessariamente podem ser atribuídos aos adoçantes. 

“O que a OMS propõe no documento é que os adoçantes substitutos de açúcar não são uma medida eficaz para redução de peso”, diz Rodacki. “Eles não querem dizer que quem usa adoçante deve parar e substituir por açúcar, ou que os adoçantes não sejam seguros”, reitera. De acordo com ela, a OMS sugere apenas que trocar produtos com açúcar por outros processados e ultraprocessados com adoçantes não é uma medida eficaz para emagrecer.

A recomendação da OMS ainda é considerada condicional. De acordo com a diretriz, isso significa que o conjunto de evidências ainda tem um grau considerável de incerteza. Considerando os possíveis efeitos de longo prazo, a entidade entende não valer a pena priorizar o consumo desses produtos diante do que os estudos sugerem atualmente. 

“O documento da OMS é mais direcionado a medidas populacionais. Quem utiliza adoçante deve conversar com o profissional de saúde de forma individualizada”, destaca Rodacki. Só aí é possível analisar o padrão alimentar e onde o adoçante entra no cotidiano.

A OMS também reforça que a redução do consumo de açúcares pode ser alcançada sem a ajuda dos adoçantes. “É importante conhecer o sabor dos alimentos sem açúcar ou adoçante. A dica é ir ‘desmamando’, tomando doses menores”, reforça Ana Harb, professora de nutrição na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul. 

A especialista destaca que, em certas situações, as versões com adoçantes de certos alimentos passam a impressão de que o indivíduo pode comer aos montes sem sofrer quaisquer consequências. “No momento em que me autorizo a comer um bolo inteiro porque ele não tem açúcar, esqueço que estou ingerindo também manteiga, gordura hidrogenada, sódio e uma gama de outros produtos”, exemplifica. Por isso, a OMS e os especialistas reforçam a necessidade de buscar mudanças globais na dieta, e não apenas o consumo de produtos dietéticos.

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