Ansiedade e DPOC ‘andam’ juntas: como o lado emocional afeta o dia a dia de quem convive com a condição

Falta de ar provoca nervosismo, frustração e acaba afastando pessoas do convívio social.

Na reportagem, você ficará sabendo que:
– A ansiedade pode agravar quadro respiratório;
– Pessoas que convivem com DPOC, ao passarem estresse, sentem que precisam usar bombinha com mais frequência;
– Muitas pessoas recebem o diagnóstico de DPOC após pararem de fumar;
– Ajuda profissional para lidar com as frustrações e ansiedades é fundamental.

Quem está preparado para receber um diagnóstico que mudará sua vida para sempre? Nos adaptarmos a uma nova rotina ou às limitações que uma patologia crônica impõe pode ser desafiador não só do ponto de vista físico, mas emocional.

“Eu fiz consulta com pneumologista, que me pediu a espirometria. Quando ele me disse que tinha DPOC, não tive muito impacto. Até então não sabia o que era direito. Mas quando procurei ler e saber sobre a doença, me deu muito medo. Foi como uma sentença de morte”, recorda Maria Gorette Cassani Juliatti, de 62 anos, e que mora na cidade de São Gabriel da Palha, no Espírito Santo.

Ela parou de fumar há 13 anos, mas consumia cigarros desde a adolescência. O diagnóstico de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica veio com o tempo. “Consultei com vários pneumos dentro das minhas possibilidades, mas infelizmente, esse de Belo Horizonte (MG), me disse que era um estágio muito grave pra minha idade. Não tinha nem 50 anos, mas não desisto nunca, vou sempre a luta”, afirma.

Maria Gorette conseguiu acesso à medicamentos de alto custo e segue em tratamento. No entanto, se sente ansiosa em relação às tarefas do cotidiano, muitas delas cumprindo com dificuldade, e as consequências emocionais que o diagnóstico causa. “Sofro muito com ansiedade. Quero subir uma escada, tenho dificuldades. Andar e conversar ao mesmo tempo é difícil. Segurar um neto e brincar é prazeroso, mas cansativo. Só usando antidepressivo e ansiolítico para ir levando”, desabafa. Ela também conta que sofre discriminação por causa do diagnóstico: “Das pessoas no trabalho, falta de compreensão em casa e muita vontade de chorar todas as noites pra ver se alivia a tensão. Ultimamente fiquei mais calada, não gosto mais de me enturmar e sair, prefiro minha casa, meu quarto”.

Duas mulheres jovens de cabelos castanhos compridos sorrindo para a foto, no centro, uma senhora de cabelos castanhos curtos e vestido com flores verdes e laranja
No centro: Maria Gorette Cassani Juliatti (Foto: acervo pessoal)

Seja antes ou depois do diagnóstico, entender que deverá conviver com a DPOC é um processo. Juliana Cristina Lino de Lima ouviu do pneumologista que precisaria fazer uma escolha: fumar ou viver. “Eu tinha 41 anos quando descobri. Chorei muito, procurei ajuda. Fiquei sem fumar por quatro meses, mas voltei. Eu estou acima do peso e ainda pra mim era uma tortura por causa da falta de ar”, ressalta Juliana, que foi encorajada pelo endocrinologista a procurar ajudar por causa do consumo do cigarro.

Porém, a ficha só caiu mesmo quando ela descobriu que seria avó: “Ou eu paro (de fumar) ou nem conheço a criança. Então, no dia 2 de novembro de 2017, eu fumei o último maço. E até o dia de hoje não fumo mais, mas o fumo me deixou a sequela é que a DPOC”.

Quando Juliana se sente ansiosa, precisa fazer uso da bombinha. “Quando fico nervosa com alguma coisa, a falta de ar chega rápido. Para controlar a ansiedade, faço bordados e crochê, que me ajuda muito”, diz.

mulher branca de cabelos compridos escuros avermelhados, com oculos de armação redonda e vermelha e batom vermelho, sorrindo para a foto
Juliana Cristina Lino de Lima (Foto: acervo pessoal)

Muitos pacientes descobrem a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica após parar de fumar. Foi o caso de Hermínia Lucimara Candido, de 56 anos. “Eu tive bronquite desde criança, mas a DPOC descobri no final de 2011. Fazia um ano que eu havia parado de fumar”, lembra.

Quando soube do diagnóstico, Hermínia ficou arrasada. “Fiquei pensando como seria minha vida dali pra frente. Com certeza me senti muito mais ansiosa e até hoje é assim. A simples ideia de ficar sem a minha bombinha, por exemplo, já me deixa assim. Porque sei que, se eu precisar e não tiver, vou ficar mal”, relata.

De acordo com ela, a angústia que sente está intimamente ligada com a respiração. “A ansiedade e o nervosismo me deixam com muita falta de ar. Um simples susto que eu tomar já altera a minha respiração. Quando tenho uma aula que eu não domino muito, também me deixa mais ofegante, uma apresentação. Como mencionei, o nervoso mexe bastante com o emocional”, conclui.

foto em formato de círculo com uma mulher branca de cabelos avermelhados, olhos escuros e batom rosa escuro, sorrindo levemente
Herminia Lucimara Cândido (Foto: acervo pessoal)

Como minimizar a ansiedade diante da DPOC?

Nós perguntamos para Hermínia, Maria Gorette e Juliana quais dicas elas dariam para outros pacientes que vivem com a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica e percebem que a ansiedade caminha junto com a patologia. Confira:

– Procurar ajuda de um psicólogo e psiquiatra para aliviar os sintomas da ansiedade e a viver melhor com o diagnóstico;
– Evite situações que podem desencadear o estresse e o nervosismo;
– Fazer o tratamento e o acompanhamento corretos da DPOC;
– Faça exercícios físicos de intensidade leve e treine a respiração;
– Realize atividades prazerosas;
– Promova o autocuidado.

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