O que Grace and Frankie, série da Netflix, ensina sobre Envelhecimento?

Por Fernando Aguzzoli

Acabei de assistir ao último episódio de Grace and Frankie, série do Netflix estrelada por quatro grandes atores já com mais de 80 anos de idade. A série conta a história de dois casais, eles sócios na mesma empresa e suas esposas o oposto uma da outra. Jane Fonda (84), é uma empresária forte, um pouco fria e bastante pragmática. Já Lily Tomlin (82), representa  uma hippie completamente ‘fora da casinha’. As duas octagenárias devem aprender a conviver juntas em uma casa na praia depois que os maridos, Sam Waterson (81) e Martin Sheen (81), assumem um relacionamento há anos, acontecendo às escondidas. 

Mas o que a série tem a ver com a Associação Crônicos do Dia a Dia (CDD)? 

Envelhecemos desde o dia em que nascemos. Ao contrário do que muitos pensam, viver a vida é também nosso processo do envelhecimento, e ele não acontece simplesmente depois de cruzarmos a linha dos 65 anos. Ou seja, a corrida é mais longa do que se imagina. 

Ao longo do processo, tanto escolhas cotidianas – alimentação, prática de exercício físico, vícios – quanto os vínculos sociais que fazemos com quem amamos modificam a nossa experiência como todo. Por isso decidimos abordar essa temática, e a partir de agora vamos falar cada vez mais sobre todos os aspectos bio(corpo) psico(mente) sociais(relações) do envelhecimento aqui na CDD.

O envelhecer de cada um é ainda considerado um descer de colina para muitos. O idoso é invisibilizado pelo estigma de ser, a partir de detemrinado momento, assexuado, sem opinião política, sem relevância econômica e lento em todos os sentidos. Grandes, grandíssimos enganos, e teremos colunas para cada um desses aspectos mais pra frente! 

Grace and Frankie, nome das personagens de Jane e Lily, mudam a narrativa dessa história desde 2015, quando fora lançada sua primeira temporada. Um casal gay saindo bravamente do armário aos 80 anos de idade. Duas senhoras nada convencionais empreendendo com uma marca de vibradores para pessoas idosas, e diversas outras aventuras que devolvem a voz e o propósito para aqueles em uma fase avançada de vida. 

Mas espera…um casal gay, um brinquedo sexual e uma viagem até o México para trazer medicamentos contrabandeados para os EUA? Nada disso é incrivelmente bizarro, são boas histórias apenas. Mas quando você adiciona os personagens da séria a esse cálculo, você de repente precisa assistir toda a temporada em uma única sentada no sofá. Mas por que? Por gerar estranheza! Não se pode viver nenhuma dessas aventuras aos setenta ou ointenta anos, certo? Errado! E até mesmo a imagem de Jane Fonda, no ápice de sua beleza com seus cabelos grisalhos aos 84 anos, dirigindo um carro pode gerar aquela sensação de …ué, ela? Sim, ela e muitas outras e outros. Essa é a grande revolução do envelhecimento quebrando paradigmas para abrir caminho e naturalizar a imagem do idoso vivendo sua velhice sem padrão. 

Em uma de suas últimas falas, já no episódio final da série lançado em 2022, Grace fala para sua agora amiga inseparável: “Vivi os melhores anos da minha vida nos últimos anos da minha vida. Quem sabe, de repente, o melhor ainda está por vir!”. Quem diria que, aos oitenta anos de idade, alguém poderia sequer considerar ‘o melhor por vir’

Grace and Frankie não anulam os desafios do envelhecer. Convivem ou passam por temáticas como artrite, Alzheimer, cuidados paliativos, AVC, câncer e ataque cardíaco, algumas condições já conhecidas dessa fase da vida, mas fazem questão de passar também pelo não convencional, como alcoolismo ou abuso de medicação. Mas embora falem e convivam com 50 tons de desafios, o fazem sempre com o apoio uma da outra e de suas famílias imperfeitas, destacando sempre que a vida é assim, uma condição crônica que nos permite viver apesar de tudo. 

Quando assisto aos espisódios da série, imagino: “eu quero isso para minha mãe!”. Não quero a imagem forçada do velho pulando de paraquedas ou correndo maratonas aos noventa anos, embora seja completamente possível, mas também não a desejo o clichê do idoso rodeado por temáticas relacionadas à sua morte ou seu desaparecimento gradual. 

É uma delícia ver o idoso ter voz, poder escutar suas vontades, a raiva, a mágoa, o interesse, o sonho, o proposito, o medo e o tesão. É instigante escutar o estigma rompendo dentro de nossas mente ainda limitadas quando vemos dois superidosos gays se beijando apaixonados. 

Quero que minha mãe, meu pai e eu possamos viver tendo informação suficiente sobre aquilo que podemos mudar para fazer de nosso envelhecimento algo mais proveitoso, mas também tendo consciência que essa fase da vida, assim como outras, tem seus desafios característicos. E tá tudo bem! 

Que possamos nos inspirar na história de Grace e Frankie para mudar a maneira como pensamos o envelhecimento. Que acabe a estranheza que nos causa tudo aquilo fora desse padrão montado pela fragilidade e desassistência. Que possamos, no futuro, escolher entra sermos a Hippie com peças de roupa extravagantes ou a Perua com uma taça de martini na mão. Mas ainda melhor, que possamos viver esse processo com dignidade, sendo quem somos e cercados por quem amamos. 

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