por Jéssica Rodrigues

E sempre fizeram questão de deixar isso bem claro pra mim.

Mesmo com meus amigos eu não conseguia me sentir completamente pertencente.

Eu costumo dizer que eu tava desenhando e lendo na hora que tavam ensinando pras crianças sobre habilidades sociais. É algo que me atravessa em todos os detalhes da minha vida.

Eu soube sobre autismo de maneira real na faculdade de psicologia, mas ainda assim o que se estuda não é suficiente. O foco é em crianças e pouco se falava sobre adultos. Era como se em adultos autismo tivesse resumido a algo entre Sheldon Cooper e Rain Man.

Eu não parecia eles.

Mas sabia que era isso. E aí comecei a estudar sobre e se tornou um dos meus hiperfocos.

Estudei também sobre habilidades sociais e motivação e emoção, coisas que me ajudaram bastante como lidar com aquela nova descoberta sozinha.

Eu não tinha dinheiro pra pagar por um diagnóstico naquele momento e eu sabia que isso não daria pra ser feito por qualquer um. Eu tinha estudado o suficiente pra entender que seria algo complicado de se identificar. Só agora, 8 anos depois, consegui recursos pra fazer isso.

A gente é levado a mascarar, pq a sensação de inadequação e não pertencimento é enorme. Fazer de conta acaba sendo um modo de sobreviver.

E aí a gente cresce, com um custo enorme e um gasto de energia descomunal, a gente vai tentando corresponder às expectativas. E isso pode fazer muito mal.

Veja, se a gente não faz isso as pessoas vão nos destratar. Mas se a gente faz, quando chegamos num profissional que não sabe sobre autismo em adultos eles dizem que não é possível que sejamos autistas.

É um não lugar.

Por saber do que acontecia comigo, da minha forma de estar no mundo, eu adapto meu trabalho. Opto por trabalhar sozinha a maior parte do tempo pq interação social me gasta muita energia (eu preciso me preparar previamente pra interagir). Também controlo as luzes e sons do ambiente. Eu até consigo me expor a muitos estímulos quando me preparo pra isso, mas se o fizer muitas vezes durante muito tempo me leva a um esgotamento enorme.

A gente continua sendo autista! Por mais que eu estude sobre expressões faciais, estude e faça terapia focada em desenvolvimento de habilidades sociais, aumente meu repertório de comportamentos, continuo autista! Essas coisas não ficam naturais.

Muitos “profissionais” tem se aproveitado do desespero de pais pra prometer coisas impossíveis e até perigosas pra “curar” o autismo.

Falar sobre autismo é lembrar que somos tão diversos que nossas possibilidades são infinitas!

E mesmo níveis que precisam de mais suporte conseguem se desenvolver bem quando se é tratado de forma adequada, humana e inclusiva.

Tratamentos servem pra melhorar nosso entendimento do mundo e a nossa forma de estar nele, não pra “deixar de parecer autista”. O objetivo é o bem estar do autista e não atender expectativas alheias.

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