Comer emocional como válvula de escape para nossas emoções

No campo dos alimentos e saúde mental, ao longo da vida, muita gente desenvolveu um mecanismo de fuga de enfrentamentos e usa a comida como válvula de escape para lidar com as emoções
Por Camila Tuchlinski

O aroma, a textura e o sabor de certos alimentos nos ativam algumas emoções e memórias afetivas, que podem ser boas ou ruins. As positivas são aquelas que fazem a gente lembrar de situações harmoniosas e alegres com aqueles que a gente ama. Um exemplo clássico é o cheiro de bolo da vovó, né? As negativas são atreladas a vivências que não gostaríamos de ter passado, como quando a gente ‘se joga em um balde de sorvete’ após uma separação ou toma doses a mais de vinho para esquecer a morte de um ente querido.

Nas sociedades ocidentais, o comer está, inclusive, vinculado ao encontro. Se a gente quer sair para conversar com os amigos, combinamos de ir à uma pizzaria ou fazer um churrasquinho. E o que dizer das festas de aniversário? Sempre regadas à toda sorte de doces, bolos e afins.

Quando pequenos, somos ‘treinados’ a nos ‘comportamos bem’ em troca de uma sobremesa. Também nos deparamos com a indústria dos ultraprocessados e suas propagandas tentadoras de alimentos altamente viciantes como refrigerantes, batatas fritas, biscoitos e salgadinhos.

Um estudo, divulgado no fim de 2022 pela Universidade de Michigan e da Virginia Tech, revela que “alimentos altamente processados podem atender aos critérios para serem rotulados como substâncias viciantes usando os padrões estabelecidos para produtos de tabaco”. De acordo com a pesquisa, este pode ser um fator chave que contribui para os altos custos de saúde pública associados a um ambiente alimentar dominado por ultraprocessados baratos, acessíveis e fortemente comercializados.

Para a sobrevivência da espécie, as pessoas aprendem. E, no campo dos alimentos e saúde mental, ao longo da vida, muita gente desenvolveu um mecanismo de fuga de enfrentamentos e usa a comida como válvula de escape para lidar com as emoções. Quer saber como? Vamos lá:

  • “Tive um dia tão difícil, mereço comer o que quiser”
  • “Hoje eu preciso comer alguma coisa gostosa”
  • “Sei que não deveria comer isso, mas é só hoje”
  • “Estou chateada, preciso comer”

A lista de frases é muito maior, mas é apenas para dar uma dimensão de como a gente usa a comida como uma forma de recompensa ou uma compensação. Isso porque não encaramos de frente o que está causando o estresse, a tristeza e a euforia – sim, o estado de euforia também pode ser um gatilho.

Quando conseguimos alcançar um despertar de consciência sobre isso, mudar é preciso. Mas não é fácil. Existe uma explicação neuropsicológica, porque o cérebro busca segurança. E mudar o estilo de vida causa insegurança e medo. Sendo assim, o cérebro prefere nos manter em um padrão que sempre existiu – o comer emocional.

Desconstruir um pensamento aprendido e elaborado durante anos dentro da gente é um dos caminhos para lidar com a obesidade, por exemplo, que é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença e que precisa de tratamento para o manejo de comorbidades atreladas à ela. Porém, resquícios do preconceito contra pessoas gordas acabam impedindo muita gente de chegar a esse despertar de consciência e se capacitar para lidar com a saúde mental nesse contexto.

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